domingo, 13 de junho de 2010

WOODSTOCK BRAZIL - Será que vale a pena?

Não é de hoje que surgem boatos sobre a realização de um novo festival intitulado “Woodstock”. Também não é a primeira vez que ouvimos dizer que o maior festival de rock de todos os tempos seria realizado dessa vez, não surpreendentemente, aqui no Brasil.

De fato o Brasil é um país com adeptos de todos os gêneros do rock n’ roll, já foi holofote para o mundo nas edições anteriores do Rock In Rio, e possui uma riqueza natural invejável, tornando-se no lugar perfeito para sediar tal evento.

Entretanto, o que me preocupa não é o lugar, mas sim os moldes desse suposto “Woodstock Brazil”...


Bom, todo mundo sabe o quanto a primeira edição, realizada em 1969, foi essencial não só para o mundo da música, mas para a humanidade. O festival foi o retrato de toda uma geração: jovens que sofriam com os reflexos de uma sociedade baseada na guerra, no ódio, na violência, na política questionável. A família tinha aspectos de uma hierarquia militarizada. A consciência social foi amparada em Woodstock, juntamente com uma consciência ambiental. Nada do atual “politicamente correto” de hoje, mas sim uma postura de respeito à natureza, sem negar a essência do ser humano, sem negar, sejamos claros, a busca pelo prazer.

O trinômio “sexo, drogas e rock n’ roll”, naquela época, tinha sim uma conotação e propósitos diferentes. Havia a liberdade sexual em jogo, ainda em tempos em que se separava o sexo de ganhos capitalistas, e o bombardeamento de nossas crianças com produtos (de entretenimento ou não) baseados na exploração da sexualidade.

Quanto às drogas, não faço apologia a seu uso, que fique bem claro. Mas naquela época o consumo e principalmente os entorpecentes em si, eram extremamente diferentes. Em uma possível nova edição do festival, teremos invariavelmente um consumo alto de drogas pesadíssimas, como a cocaína. Quem tem um mínimo conhecimento de seus efeitos, sabe que “paz & amor” nada tem a ver com os efeitos causados pela substancia. O uso de LSD no fim dos anos 60 representava uma expansão dos horizontes, criando uma nova forma de pensar, e consequentemente fugir do regime adotado em décadas anteriores. Não há como negar: o uso de drogas hoje incitará o público à pancadaria, algo semelhante com o que aconteceu em 99, na última edição do Woodstock.

Já em relação à música, nem há o que comparar. Para um festival que teve Santana, Joan Baez, Mountain, Grateful Dead, Canned Heat, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin, Jefferson Airplane, Joe Cocker, Ten Years After, os irmãos Winter e um inpirado/chapado Hendrix, as possíveis atrações do “Woodstock Brazil” soam ora pobres demais, ora como verdadeiros insultos.

Senão vejamos:

LINKIN PARK: Apesar de ser de péssimo gosto, seu primeiro álbum, “Hybrid Theory”, conseguiu aplicar uma roupagem mais acessível ao chamado “new metal”, e apresentou ao mundo um bom vocalista, Chester Bennignton. Vendeu horrores. “In the End” tocava até quando se ligava uma torradeira na tomada. Entretanto, após o 2º álbum a febre já tinha passado, demonstrando toda a mediocridade da banda. Atualmente fazem uma espécie de plágio do U2, besuntado na manteiga.



GREEN DAY: Alguém um dia cismou que a banda era boa. Alguém vendeu essa idéia. Alguém comprou.
Formada por 3 músicos extremamente limitados, o grupo ficou famoso na década de 90 com um punk rock escolar despretensioso. Até aí tudo bem. O problema mesmo foi quando tiveram a idéia de lançar um “álbum conceitual” (que Rick Wakeman os perdoe por usar tal expressão em vão), que variavam alguma letras menos estúpidas com músicas repetitivas, de no máximo 5 acordes. A MTV forçou a barra e os levou ao status de gênios. Farão um show de pouca qualidade, e devem protagonizar outra atuação lamentável, como no Woodstock 99, em que o pessoal jogava lama no palco. Se não fazem o público pensar, não podem cobrar atitudes inteligentes.


SMASHING PUMPKINS: Outra banda superestimada pela mídia. Apesar de bem mais cerebrado, o grupo comandado por Billy Corgan já teve dias melhores. Infelizmente a qualidade musical nunca foi seu ponto forte, e o visual estranhíssimo é o que chama mais a atenção. Há uma mulher na banda (péssima baixista por sinal) para dizerem que são diferentes. Talvez valha a pena pelos clássicos. Em tempos difíceis, uma escolha não muito ruim por parte da organização.



LIMP BIZKIT: Um espectro de si mesmo. Apesar de bons álbuns lançados na década de 90 e começo dos anos 2000, a banda recém reunida não tem mais nada a acrescentar. Algumas canções novas já estão na internet, e são verdadeiros plágios dos discos anteriores. Fred Durst já não é o mesmo ao vivo. Farão um show agressivo, totalmente distante da proposta do festival. Momento de alguns marginais derrubarem as barracas, ou coisa bem pior.

RAGE AGAINST THE MACHINE: A ótima banda americana seria uma boa para qualquer festival, menos para o Woodstock. É certo que também não têm nada novo para apresentar, mas os clássicos valeriam a pena. O problema é, novamente, a agressividade do som, a associação à revolta, rebelião, violência. “Paz & Amor” que nada, o negócio é “Killing in the Name”...


INCUBUS: A banda mais sem sal dos anos 2000. Sua escalação mostra mesmo qual o objetivo do festival: ganhar dinheiro, levando o pessoal de uma geração que não pôde ver os shows na época em que as bandas estavam no auge. Essa geração, que antes era formada por adolescentes que assistiam MTv, hoje possui médicos, engenheiros, advogados e dentistas, todos recém-formados. Já possuem grana para pagar um absurdo nos ingressos, mas ainda têm disposição e disponibilidade para acampar, farrear. Poucos têm família constituída, altas despesas, e compromissos 365 dias ao ano.



NOTAS POSITIVAS: As possíveis escalações de BOB DYLAN, FOO FIGHTERS e PEARL JAM podem fazer a diferença. Dylan dispensa comentários (apesar da produção estar se valendo do “hype” que ele teve na mídia, por conta de artistas chinfrins como Mallu Magalhães), e as outras duas bandas têm suas qualidades, podendo fazer shows memoráveis.

Enfim, “Woodstock Brazil” será duvidoso. Provavelmente com ingressos caros, sem consciência ambiental e sustentabilidade. Não pregará paz, e em certos momentos incitará a violência. È, de fato a chance de se ver algumas bandas. É a chance de acampar e conhecer pessoas, interessantes ou não. É a chance dos organizadores ganharem uma grana. Na balança, não acho que valha a pena. Quanto à utilização do nome “Woodstock”, acho uma piada de mau gosto, um verdadeiro desrespeito com a memória do rock, da música, da sociedade.

E você, o que acha?